30 de novembro de 2006


Meus queridos,

Desde agosto que baixou o "caboclo" e não paro de escrever.
Como uma benção, foi lançado o edital para o concurso "Alagoas em Cena".
Não deu outra: corri, juntei tudo o que tinha escrito e agora sou uma das candidatas no certame.
Se for escolhida, publico o meu livro.
Se não, vou me esforçar para lançá-lo independente, em breve.
Todos os poemas a serem publicados estão divulgados neste blog.
Eis o primeiro esboço da capa. Obrigada pela força, Jurandir Bozo, Bob Omena, Emanuel Galvão e Napoleão Idelfonso.
Torçam por mim, ok?

28 de novembro de 2006

Queridos amigos, leitores e "torcedores",
Inscreverei meu projeto de publicação do livro de Poemas "Palavras de Absinto" no concurso Alagoas em Cena, se Deus quiser, até amanhã.
Estou aqui no corre-corre para atender os requisitos do edital, e envolvida com elaboração de palestra que vou proferir agora a tarde, sobre pessoas com deficiência e reabilitados, em evento organizado pelo INSS. Tudo isso, enquanto apronto minha filhota para a escola, rs!
Corrente positiva, em meu favor, tá bom, meus queridos?
Um grande abraço.

25 de novembro de 2006

Palavras de absinto em meu jardim


Descrição da imagem: vários cravos, em tons de vermelho e amarelo. Ao centro, um cravo cujas pétalas são em degradê branco e vermelho.


Palavras de absinto em meu jardim 

Adormeci no jardim
e acordei com o perfume das flores
impregnando o nariz.
Logo descobri que estava fixado
na base de minha nuca,
no jardim que criteriosamente imprimi em relevo
para nunca mais esquecer de onde vim,
para onde vou e o que sou.
O cheiro, adquiri no repouso.
É que fiz um travesseiro de gérberas
e das tantas outras flores vermelhas,
que colhi no escuro da noite,
para depositar meu cansaço,
depois que enfrentasse os fantasmas perfumados.
O perfume era de absinto,
Misturado com suor e medo de fracasso.
Adrenalina!!! Os cães loucos vão me farejar!!!
Sempre soube do perigo de adentrar no jardim
Depois que o sol se pusesse. Mas fui.
Estou enfrentando os medos!
E consegui me acalmar o suficiente
para adormecer, ainda que de cansaço,
ao menos por alguns minutos,
quando tudo estava em silencioso e calmo,
pouco antes do nascer do sol, lá no horizonte.
Sua luz anunciava
Que o perigo tinha sido vencido,
Ao menos por mais um dia.
Estou ousando mais:
ando ensaiando passos mais firmes
entre os canteiro irregulares de perigo e beleza.
Há palavras pontiagudas
se espalhando por todos os lugares,
escondidas entre as pétalas e as folhas,
em forma de pequenas lanças,
imitando espinhos agressivos,
ocres, insistentes, traiçoeiros.
Todo o cuidado é pouco:
se me picarem, sob o torpor do quase-veneno,
escreverei sem fim,
revelando segredos, medos e desejos.
Desse jeito confessarei quando foi que fraquejei
e quando perdi o interesse de prosseguir.
“Não, não se assuste tanto assim...”
As coisas mudaram.
Os meus dedos estão calejando
cada vez mais depressa.
Estou sobrevivendo cada vez mais imune
às feridas envenenadas.
A pele da ponta dos dedos engrossou.
Já coleciono várias cicatrizes.
Mas sou exigente:
para acreditar os ensaios dispensáveis,
entendo que careço de mais dor.
“Tenha calma”.
A diferença fundamental é que os espinhos
hoje em dia, até penetram, machucam,
mas tudo fica por aí.
Não conseguem mais profundidade
para oferecer risco
de ferida de morte ou mutilação.
Tem momentos em que me vem
o arrepio da proximidade do perigo.
Mas aprendi que este é o momento
em que se precisa ter calma.
Sento em algum cantinho do jardim
e pacientemente vou forçando a saída do espigão.
Às vezes demora anos para ser expulso.
“Mas, paciência. Sempre sai”.
Fico aguardando, quando nada posso fazer...
E quando sai, volto a me jogar para frente.
Cabelos ao vento e fúria de uma primeira vez.
Às vezes, quando se força a saída,
O espinho se parte em pedaços
e algo de sujo e endurecido permanece por dentro,
contaminando, corroendo, inflamando...
Mas passei a entender o processo:
isto contribui para a formação da calosidade,
que é o que me protege.
“Sai, paciência, que sempre sai”.
Pele grossa é pele feia, árida e sem viço.
Mas é pele útil, levando-se em consideração
a necessidade de vencer a guerra de sentimentos
tão própria da natureza humana.
O tempo...
O tempo vem me fazendo os calos...
Ainda não tenho como avaliar
se foi boa coisa o que ele me fez.
Vou precisar de mais tempo para poder responder...
Enquanto isso, vou circulando os canteiros
já em postura de “vencedora de batalha”,
provocando as flores
e desafiando as palavras aos berros.
Assim, obrigo-as a me atacar de novo,
e de novo, e de novo...
Continuo a guerra santa,
acelerando o meu treinamento pra vida.
É que tenho pressa.
Quero bom êxito agora,
para me atirar neste restinho de tempo
que ainda me sobra.

23 de novembro de 2006

Caminhos delirantes


Descrição da imagem: fundo escuro, de folhas e galhos. A frente, várias florzinhas brancas de tamanho médio.

Caminhos Delirantes
(28/10/1987)
.
Vagando por caminhos escuros
Acompanhada de mim
É o mesmo que estar sozinha
Não ou companhia que valha
Há pouco tempo vagueio
Pelo meu imaginário
Passos tímidos, temendo o anoitecer
Nada é real
As questões do meu coração
Eu traduzo em gemidos
Em fases de intensa dor, viram uivos
Pego o meu amor e viro pelo avesso
Sei que um dia despertarei
Então, por hora, relaxe...
Olhos cegos que fitam o horizonte
Mar que abraça impotente
Os gritos, estes serão todos queimados
Como devem queimar todas as bruxas
Os que sobrem eu dissolvo
Entre uma lágrima e outra
Tudo ilusão
Atalhos são caminhos errantes do coração
E quem não busca coração
Fica livre da dor e do desencanto
Mas vira areia após o terceiro dia

Platônico Amor


Descrição da Imagem: a flor é amarelo esverdeado, formada pela junção de várias floriznhas pequenas.


Platônico Amor
(30/10/1987)


A minha amnésia é só para o que me provoque desejo.
No mais das vezes, fico envolvida com outros prazeres
Menos nobres, porém, socialmente aprovados
É comum que me busque e não me encontre
Só do que recordo no passado
É da ausência de sombra e de formas
Em meus surtos, não consigo decifrar cheiros
Parece que não pertenço a este mundo
Nada de recordações ele me traz
Sei que um dia já amei, mas não lembro a quem
Quem será que detém a hipoteca de meu coração?
Seu olhar seria triste,
como busco retratar nos desenhos, ou felino?
Nada vejo...
Sem lembranças
Acho que se lembrasse, por certo, iria chorar
Mas chorar alivia tanto...
Te crio e recrio em imaginação
O dono invisível do meu coração é misterioso
E segredos excitam
Permaneço inerte, para não alterar a cena
Certamente, um dia saberás
Do sentimento que me habita

O Beijo não vem da boca


Descrição da Imagem:a flor é branca, com um pistilo rosa no centro, de onde saem sementinhas amarelas.



O beijo não vem da boca
(08/12/1987)

Numa sanha louca
Fecharam os olhos aguardando o êxtase
Lábios entreabertos, mas levemente tensos
Por segundos perdiam-se em sorrisos de satisfação
Lenta aproximação
As batidas do coração buscam o ritmo
A adrelina gerada pelo gosto do proibido
Começa a se diluir de fora para dentro
Suor tem sabor de tempero
E dão a tônica do que estar por vir
Têmporas se roçam
A pelugem do rosto roça ao vento
Começa a brotar cumplicidade
Lábios se procuram
Emoções brotam sem muito controle
Leves toques, pressões mais intensas
Sucções, línguas que se enroscam
Respiração que perde o compasso
Olhos entreabertos
A atração se confirma recíproca
Aos poucos, os corações se cadenciam
Finalmente, a grande descoberta:
O beijo não vem da boca!!!

Desejos e delícias


Desejos e delícias
(1985)




Solidão corrói...
Saio se rumo, fugindo, como de costume
Lanchonete, banana split...
Vícios menores 
que com a idade vão se transformar
em boates e muitos tragos de cigarro.
Quem sabe você me aparece
E fala algo que eu precise ouvir.
Sente ao meu lado...
Se bem me lembro,
O milk shake é de flocos e passas ao rum
Para garantir a embriaguês
E esquecer as dúvidas e incertezas.
Passeia com a língua pelos lábios.
Há um feitiço no ar...
São essas delícias de verão.
O velho truque 
de pegar guardanapos 
do outro lado do balcão e pronto:
o roçar do braço no meu peito.
Pede desculpas e diz que foi sem querer.
Por trás dos olhos amarelos, um homem licensioso.
A estratégia é das mais ardilosas
Seu potencial bélico é para detonar sentimentos.
Diz que és só meu. Finjo que acredito.
Nada de mau, eu te perdôo
Para isso, vim ao mundo 
Encapsulada em um corpo de mulher.

Nos braços, nos olhos e no coração


Descrição da imagem: Folhagem verde em segundo plano. Ao centro, flores brancas com centro amarelo, rodeado de tons roxo.

Nos braços, nos olhos e no coração
(07/09/2006)


Quero estar em você
E me tornar parte da essência do teu suor
Quero estar por trás do prazer
Ser a mão na hora da masturbação
Quero virar uma tatuagem grande e dolorosa
Fazer parte do que chamas de plenitude
Quero ser a energia que movimenta tuas escolhas
Não quero ser as lágrimas
Mas quero ser a mão que as enxuga
E que também faz manobras maliciosas em espiral
Só quero ser a lágrima sob uma condição
Se ela escorrer pelo canto de tua boca
E a resgatares com a ponta de tua língua quente
Aí, sim, quero ser a lágrima 
E em delírio passarei a compor tua saliva
O teu coração, eu quero ser
Mas, cuidado, você, 
Que o farei parar em momento decisivo
Exatamente na hora 
Em que, sei, me sorrirás depois do gozo.
É para que guardes para sempre em tua retina
Como um negativo revelado
O meu semblante de felicidade.

Hiroshima Sentimental


Descrição da imagem: a flor parece uma espiga branca, com grãos um pouco mais esparsados e mais pronunciados.

Hiroshima Sentimental
(23/07/1987)


Não faça de conta
Que como amigo já está bom
Se quando te olho
O que vejo são destroços
De mais uma ‘hiroshima sentimental’

As cartas amarelaram
Os lençóis desbotaram
E a flor cansou de ser viçosa
E de pedir paz e amor

Não junte o que restou
Não cole os cacos
Não salve o amor
Deixe-o afogar-se nas lágrimas
Antes que elas evaporem

A cama grita a saudade
O quarto reclama a ausência
O espelho perdeu o reflexo da dor

Sinais da fuga do sofrimento
Prenúncio do cansaço e do lamento
Falta das nossas formas 
Siamesas em sombra.

Amor gosta de penumbra
De se enquadrar 
Em cena imortalizada

Sombras implodem
Mas o estopim da bomba 
De sentimentos que alimentamos
Permanece intacto
Sempre acreditando em uma nova chance.

Alcatraz

Descrição da Imagem: ao centro, uma flor vermelha com sete pétalas. 
Ao centro de cada pétala, outras pétalas menores, brancas. O centro da flor é amarela.


Alcatraz
(1986)

Num vôo razante
Pelo céu do teu corpo
Mergulhei de cabeça
No teu mundo torto.
E consciente sendo
E inconsciente ficando
E mesmo te querendo
Eu fui te deixando.
E tentei escapar
De tuas garras felinas
Para me entregar
A paixões libertinas.
O magnético olhar
Vindo do teu ser
Atraia o meu corpo
Me unia a você.
E o insucesso de fuga
Me fez entender
Que não sou só tua
Sou parte de você.

Poeminha Colorido


Descrição da Imagem: em segundo plano, folhagens verdes; 
ao centro, pendem duas flores, uma rosa e uma lilás.


Poeminha Colorido
(1986)


Num dia AZUL
Juntamos nossos corpos MORENOS
Por sobre a VERDE relva
Num enroscar contínuo de braços e pernas

O sol tratou de se esconder
VERMELHO de vergonha
Atrás das BRANCAS nuvens
Que curiosas
Participavam de nosso amor

Já as VERDES árvores
Nos presenteavam
Com uma alegre sinfonia
E algumas TRANSPARENTES
Gotas de orvalho
Que lavava nossos corpos suados
Perdidos em devaneios múltiplos

A noite veio mais cedo
Pois as estrelas curiosas
Já não se contiam
E emitiam um BRILHO intenso
Para melhor nos observar

A coitada da lua EMPALIDECEU
E a emoção era tanta
Que toda a natureza
Gozou junta

Triângulo de Emoções


Descrição da imagem: em fundo escuro, ao centro, 
um cravo de pétalas rosadas e pontas brancas


Triângulo de Emoções
(29/10/1987)

Eram duas arestas
De emoções paralelas
Formas perfeitas
Retilíneos desejos
Causas e formas
De admirável nexo
E tornaram-se três
De exatos ângulos
Um triângulo sentimental

22 de novembro de 2006

Peito de Mulher


Descrição da imagem: Diversas flores azuladas, 
com algumas pontas de pétalas amarelas e centro verde


Peito de Mulher
(1986)
O peito adormece
E esquece
De permanecer oculto
Trazendo a mostra
O que a blusa transparente
Pouco guarda.
Montes espessos
De cor formosa
Guarda no íntimo
O coração digno.
A áurea é rosa
A auréola é rósea
O cheiro é de fêmea
A menina é a que dorme
Quando acordada
é a mulher que comanda.
O seio é firme e úmido.
E quando a gravidade
Ou a gravidez
Vencer a firmeza
A dignidade do coração
É que fará às vezes da rijeza.
E permanecerão belos.
Peito seduz e traz prazer
O que faz com que se esqueça
Que com ele também vem segurança
E combustível para a vida.
Simbólico como a flor
Faz escravo os seus homens-meninos
Que endeusam este templo sagrado
Com poemas de amor.

21 de novembro de 2006

Por enquanto, nada


Descrição da imagem: em fundo branco, 
em segundo plano folhas verdes pontiagudas.  
Ao centro, três orquídeas em tons de lilás e roxo.


Por enquanto, nada
(28/09/1987)
Arde a chama do sentimento perdido.
Ao mesmo, tempo chove uma chuva.
Tão fina... quase imperceptível,
vista somente pelos meus olhos tristes.
Olhos que miram, sem perspectiva, o horizonte.


Chove chuva, chove lágrimas, chove mágoas.
Tento mergulhar nela de cabeça
Lavar as angústias, os pensamentos que pesam,
tirar seu cheiro
e extinguir a labareda incessante
que lapida meu coração de pedra
num formato que não desejo.
A isto, chamo amor.



Engulo minhas lágrimas secas,
suavizadas pelas gotas de chuva ácida.
O que me resta, esta sou eu mesma.


Tornei-me tão comum ao tentar me retratar para ti...
Numa eterna guerra interior
fiz um amor mudo, sem palavras.
Eu não falo nada, mas você sabe tudo.


Querendo o teu erro,
traduzo-me em tua língua.
Língua ávida de beijos,
e você nem ao menos saberá.


Espero, ansiosa, o sorriso
que dissolverá a incerteza.
Mas ele não vem.
Nada mais faz sentido: estou sem você.


É o fim do amor?
Oh, não! Eu terei minha chance de sofrer.
É que eu estou em você.
E vou me ludibriar, até que se acabe o amor.
Mas aí eu te darei mais amor.
E tudo começa de onde nem terminou.


Mergulho no teu profundo azul.
E vou acabar me afogando.
A estrela vai se apagando...
Sinto o teu carinho estrangulando
Entrego-me a um momento casual...
E para o que não tem solução,
é proibido chorar.
Faço do meu louco amor
minha única e doce ilusão.


E enquanto canto uma canção desentoada,
chorando minha mágoa, calada,
e pedindo que não me condenes à tua ausência.
Pois eu não sou inteira - a isto chamo solidão.

Pane Sentimental


 Descrição da imagem: diversas florzinhas azuis e folhas verdes pendem de galho. 
Fundo de pedras cinzentas em segundo plano.
Pane Sentimental
(09/09/1987)
.
Eu já nem sei se é a ti mesmo que quero
ou se o que quero é o meu eu,
que por ti anda perdido.
Eu já nem sei se desejo o teu desatino
ou se apenas me enfeitiço com teu olhar felino.
Teu corpo é supérfluo,
tua mente dispensável.
Então o que quero?
Um momento agradável?
Eu não sei. Não me pergunte.
Eu acho que esqueci.
A tua pergunta é a minha resposta.
E se insistires em indagar,
respondo algo que já li.
Ando meio “down”,
embora minha entrega seja total.
Ando sofrendo, você me diz
É verdade, estás certo
Mas no mais das vezes, eu sou feliz
Porque sou cheia de minha própria luz - a da Estrela.


Achem meu coração

Descrição da imagem: fundo vermelho e galho contendo diversas florzinhas brancas
pendem vindo do lado direito da foto.

Achem meu coração
(11/09/1987)

Achem meu coração
Que se perdeu na primeira curva,
na primeira paixão.
Achem meu coração
Que partiu sozinho
rumo errante...
Achem meu coração decepção.
Achem meu coração.
O que já não palpita
mas se precipita.
Achem meu coração
O que sempre foi traquino.
Mas que na dor fugiu feito menino.
Achem meu coração.
O que gosta de aventura e de emoção.
Achem meu coração
Dê-me vida
Sem ele sou só decepção
Achem meu coração...
Achem meu coração...

Sonhando demais


 Descrição da imagem:  Ao fundo, em segundo plano, vegetação verde. 
Ao centro, flor amarela parecida com um lírio.
Sonhando demais
(Em 21/08/1987)

Eu queria ter você pra mim
Assim...
Sem precisar dizer “eu te amo”.
Eu queria o teu cheiro, o teu paladar.
Eu queria afagar os teus pêlos,
enquanto tuas mãos repousassem em mim,
tocando o meu corpo virginal... de você.
Me dá um beijo, por favor...
Mata o meu desejo...
Mesmo por caridade.
No fundo eu não quero o teu ser.
Dá ele a eternidade...
E quero a tua essência
Teu cheiro que me seduz
Em troca, te dou o nada
Só a exaustão do despertar do amor.

20 de novembro de 2006

Perdendo tempo



Descrição da imagem: em fundo branco, 
folhas de espada de Santa Bárbara

Perdendo Tempo 

(Em 29/10/1987)



Perdi tempo na caminhada fúnebre de meus erros.
Perdi tempo nas paradas.
Tempo foi perdido quando, cansada, caí
e outros por sobre mim passaram,
seguindo suas próprias trajetórias.
Meu suor, às vezes, fedido,
também já respingou corpos caídos
dos que em outro momento fracassaram.
Tantos de nós ficam no meio do caminho...
Tantos damos nossos corpos ao chão,
para compor a estrada,
em que alguns de nós vai prosseguir...
Tantos de nós significam tão pouco...
E, entre eles, tantos poderiam ser apontados, hoje,
como “os melhores”, se não tivessem desistido,
se tivessem levantado no momento certo,
mesmo que o chão da estrada ficasse irregular,
para as gerações futuras, pela falta de seus contornos.
Tenho asco de quem trapaceia
Cuspo na cara de quem vence só pela glória
ou reconhecimento,
sem saber o que fazer com sua vitória.
Sobrevivo aos ataques, às traições.
E prossigo, num cortejo de miseráveis
a procurado da almas brancas
e olhares transparentes,
que amainem meu intenso desespero.
Passo a mão em meus cabelos,
ondulados como as irregularidades da estrada
da qual se desprenderam
os corpos de quem não se deu por vencido
– marcas de quem não aceitou o golpe –
e canto, baixo, uma canção sem melodia.
Tento cair em teus braços, mas não consigo sonhar.
Choro por minha impotência
mas é assim que aprendo
a ser melhor e mais rápido
que o fim trágico que me espreita.
Completo minha jornada, mas não me orgulho.
Venço a minha caminhada, mas não sorrio.
Uns desistiram, outros padeceram em luta pessoal.
E eu, que aparentemente venci,
fui condenada a viver só
na casa de cômodos transparentes
que anos vem guardando meu coração.

Foto: Rita Mendonça (setembro/2006)

9 de novembro de 2006

Indescritível felicidade


Descrição da imagem: ao fundo, céu azul. Do lado esquerdo da foto, pende uma flor rosada.


Indescritível Felicidade

Ei, por incrível que pareça,
eu não sou triste!
Esta é apenas uma maneira efetiva
para vomitar desconfortos
que porventura me invadam
durante o trabalho
no horário comercial.
Até aí, tudo normal.

E por falar em comércio,
a jogada é essa:
transforma-se em negócio rentável
o que se expele pelos dedos.
Em vez de socos, palavras.
Palavras indesejadas - as de absinto.
Afinal, nada pode ser em vão,
e até as desgraças têm uma razão.

Após um dia cansativo de trabalho,
Nada melhor que expelir com ímpeto
a fadiga em forma de poema.
Respeite-se a rima,
já que trabalho é coisa séria.

Amigo triste, filho doente,
ou contas a pagar,
justificam um soneto.

Amor não correspondido
providencie um haicai.

Morte de quem se ama,
Comunica-se por dois quintetos
e três sextetos, alternados,
de versos brancos, simples.
Não se exija muito
em situações de dor.

E os momentos bons???
Estes, eu guardo para mim
e nunca registro.
Momentos bons são indescritíveis.

Não sei como explicar um beijo,
um buquê de flores,
o calor que vem do sexo,
o cheiro de chocolate,
o nascimento de um filho,
a sensação de um mergulho no mar,
uma tarde na rede, coca-cola bem gelada.
Não levo jeito para ruminar felicidade.
Agarro os momentos bons com energia
- pois tenho medo que eles fujam -
e os vivo intensamente.
E só.

O casamento perfeito


Descrição da imagem: uma margarida, que ocupa toda a foto.

O Casamento Perfeito


O problema é que sua densidade
vai bem com a minha tristeza.
E assim seguimos
nos enroscando em espiral.
E assim passamos horas
absorvidos na dor,
em alimento à infelicidade,
numa manobra insegura e dorida de contorção,
à procura de aconchego.

Aprendemos, antes de tudo,
a importância da mesma estratégia de sobrevivência:
fazer da lágrima o combustível para gerar vida.
Por isso a identificação imediata,
entre os tantos que caminhavam sob o mesmo sol.

Desde a primeira vez que sentimos o cheiro
da vontade mútua de desaparecer,
em meio a muita fumaça esverdeada,
sabíamos que haveria entendimento
fosse a linguagem vocal,
de gestos ou da mais completa paralisia.

Quando eu simplesmente te negasse sons
ou fechasse os olhos, sabia:
alcançarias a intenção das palavras caladas.

E tu sabias que eu tomaria as atitudes certas
e te protegeria dos constrangimentos,
toda vez que, enfraquecido,
deixasses o personagem entrar em cena
entoando, sem tua permissão,
entre galhadas sonoras
e gestos de alegria exagerada
os teus mais secretos medos.

Cheirávamos a porto seguro.
Então, selamos o pacto de dor.
Prometemo-nos fidelidade eterna:
Só para teus olhos derramaria minhas lágrimas.
Só em mim buscarias guarida do medo da noite.
Só nos teus ombros,
eu descansaria o peso que carrego.
Só em meus ouvidos maldirias o mundo.
Só em tua boca depositaria meu desânimo.
Só a mim permitirias
exalar o cheiro da tua desistência.

Pela benção do sagrado, viramos um.
Na tristeza e na tristeza.
Na doença e na doença.
Por todos os lentos dias de nossa vida.
Serias meu homem... seria tua mulher...
Até que a morte nos unisse
em energia decadente
para todo o sempre.

7 de novembro de 2006

Fica Comigo (para Beatriz)


Descrição da imagem: três orquídeas brancas, enfileiradas, com centro rosado.


Fica Comigo
(Para Beatriz)


Paciência, Meu Amor,
que para que sejas feliz
é preciso que eu reaprenda

a brincar e brincar,
e de novo acreditar na vida e nas pessoas.

É preciso que eu me exercite, aos poucos,
para que não sofra uma distensão,
nos 42 músculos necessários ao meu sorriso,
que há muito não pratico.


Preciso me concentrar
para evitar os arrepios
que com o tempo passei a experimentar,
ao caminhar pela areia da praia,
para que finalmente
possamos passear juntas, entre sorrisos.


Esta prática salutar, entre tantas vantagens,
se bem me lembro das revistas que já li,
promove uma abrasão mais efetiva
que qualquer creme esfoliante.
Viva os grãos de sílica para rejuvenecer a cútis
e me garantir pés de princesa,
pronta para a cena do sapato de cristal.

Perseverança, Meu Anjo
que vou entender
que respingar minha blusa de seda azul celeste
com um fio de chocolate
que fatalmente escorrerá pela minha mão
vindo do mais saboroso dos sorvetes
por certo, combaterá o ressecamento
e o envelhecimento precoce da minha alma.
E mais macio ainda,
será o toque de tua pele,
que experimentarei quando
feliz correres em minha direção
e nos fundirmos num delicioso abraço,
melhor, mesmo, que a delícia gelada.

Tenha calma, Passarinho
voltarei a acreditar
ser-me possível voar em sonhos.
E reaprender a quando não souber o que fazer,
simplesmente sentar e chorar alto
esperando consolação.
Será bom voltar a entender
que um bom berro choroso, no mais das vezes,
alivia mais do que qualquer explicação.

Para te presentear com minha doçura,
é preciso que eu tenha mais medos imaginários
receie monstros no armário, a Cuca e o Lobo Mau.
Pois a vida é de contrapontos
e só assim haverá espaço para a Fada Madrinha,
a espada de Jedi e o pó de Pirlimpimpim.

Me espera, Presentinho...
Te peço tempo.
Fica comigo...
E não desista, ainda, de mim...



Foto: Emanuel Galvão (Setembroo/2006)


Ensaiando pra vida

Descrição da imagem: flor amarela, com centro em tons de marrom.


Ensaiando pra vida

.
É isso mesmo,Deus:
quero uma segunda chance.
Não me leve muito a sério, agora.
É que até então,
estive só ensaiando.

Ensaiando pra vida.
Para vida que acho que me cabe.
É que não quero fazer feio na estréia, sabe?
Por isso até agora não foi de “vera”.

E você sabe
que tenho treinado com determinação:
decorado falas, ensaiado gestos,
socos simulados,
aprendido choro cenográfico,
tudo direitinho.

Quanto será que mereço?
Quanto será meu cachê?
Quanto vale uma vida?
Quanto vale a minha vida?

Existirão gradações?
Vidas com “glamour” e emoções fortes,
valem mais do que vidinhas sem graça
de quem se resguardou das intempéries,
por que enfrentar dor requer coragem?

E para quem, como no meu caso,
numa hora se guardou, em outra se atirou,
a depender da proporção
entre o que meus olhos viam
e o que meu coração acreditava?
Há tabela de valores,
para estimar a proporção exata
entre meus momentos de coragem
e os de covardia,
e concluir em grupo me encontro?

Deixemos as discussões para outro dia.
Pai nosso, Pai meu.
É que hoje é dia de estréia. Concentração.
Cenário em ordem
(o figurino fica por conta
do meu hidratante corporal),
e burburinho na platéia atenta e curiosa.
Não dispenso os aplausos com o apagar das luzes
e o fechar das pesadas e cinzentas cortinas
que providenciei, para valorizar o meu enredo.

Preparem-se todos:
Há cenas de sexo e emoções fortes.
O espetáculo não é recomendado
para menores de 32 anos.
E não tentem repetir em casa,
sem acompanhamento médico.

Solicito que desliguem os celulares,
evitem as conversas paralelas
e as fotografias com “flash”
para que não tirem a graça e a magia
dos truques de cenário
e assim fiquem expostos demais os personagens
- não ficaria bem para a reputação deles.

Prometo me esforçar
para que riam bastante
e levem uma lição dentro de si.
Mas, se for o caso,
chorem quando a dor for maior
que a preocupação com a elegância e a compostura.

E, por favor, silêncio,
para que se escutem
os pensamentos em voz alta
e as batidas desanimadas
desse meu massacrado coração.

Senhoras e senhores
o espetáculo vai começar!!!

5 de novembro de 2006

Salve, Mestre Verdelinho!


Descrição da imagem: Mestre Verdelinho, no palco, entre microfones, empunhando sua viola.  
Ele veste calça social e chapéu marrons e blusa verde de lantejoulas.

Final Feli! Salve, Mestre Verdelinho!
Mas, e a Cultura Alagoana? Quem salva!?

.
"O homem é o rei dos animais
e a mulher é a rainha da beleza".
(Verdelinho)

.
Há, apenas, alguns dias do lançamento de seu primeiro cd, neste dia 02/11/2006, deu entrada na Unidade de Emergência o Mestre Verdelinho, expoente da cultura alagoana, vítima de AVC e, em seguida, vítima do sucateamento da saúde pública em Alagoas. Foi necessário acionar amigos e admiradores, para lhe garantir um atendimento minimamente decente, ainda que efetuado nos corredores da UE.

Não obstante o susto, felizmente, ontem (04/11/2006), o Mestre teve alta e já se encontra em casa, aos cuidados dos que lhe amam e admiram. Aparentemente, não houve seqüelas.

Aos Mestres, seus seguidores, seus admiradores e todos os que trabalham "de graça, e por graça", vem sendo conferido o mesmo tratamento precário, que o enfrentado no sistema de saúde pública: descaso, assistência mínima (somente emergencial), e em péssimas condições.

O fato deve nos fazer, ao menos, refletir: assim como o Mestre, a Cultura Alagoana, essa "senhora de idade", também já requer cuidados e atenção. E precisa ser tratada com respeito, o que não é favor algum.

Oferece-se apenas o necessário para que ela se mantenha viva, sem se oferecer caminhos para o restabelecimento total de sua saúde, ou seja, a sua consolidação e reconhecimento como fonte de recurso e investimentos em nosso Estado, o que consistiria, de forma transversa, em melhores condições de vida, mais emprego, mais decência.

Não temos muitas indústrias, não temos comércio de grandes proporções. Restam as belezas naturais que Deus nos deu (e que nós sequer conservamos), a alegria e a criatividade de nosso povo, muito bem representadas pelas diversas safras de artistas locais, diga-se de passagem.

Nossos artistas, esses insistentes que não desistem nem quando "acreditar no sonho" significa colocar em risco a sua própria sobrevivência e a de sua família, como ocorreu com o Mestre, não são vistos com “bons olhos”.

Vemos os sorrisos dessa boa gente, em festas e apresentações. Eles nos alegram, tocam nossos corações, embalam nossas paixões e tornam mais especiais os nossos dias.

Mas não nos questionamos em como passam os outros dias da semana, aqueles em que não trazem beleza para os nossos olhos.

Para onde eles vão?

"Depois da festa", retirado o pó de arroz e a casaca colorida, como vivem os nossos "iluminados", os que trazem brilho e sorrisos?

Dedicam-se a compor e produzir, a bem de nossa cultura e para nos trazer mais alegria, ou são obrigados a se desdobrarem em duas, três jornadas de trabalho, para garantir suas sobrevivências e criar decentemente seus filhos, relegando os dons e os sonhos aos poucos momentos de folga, ou mesmo as horas que deveriam dedicar ao seu descanso?

No dia seguinte aos momentos de inspiração ou de palco, ponto batido com atraso, cara inchada, olheiras, baixa concentração e a fama de "vagabundo e irresponsável" parece se confirmar, aos olhos do patrão, por não conseguirem conciliar duas profissões tão eqüidistantes, uma que lhe ocupa a dia, outra que lhe ocupa a noite.

Sim, nossos artistas estão confinados em lojas, escritórios e órgãos públicos.

E esses são considerados os "sortudos".

Tem os que tiveram menos oportunidades e têm de se agarrar aos subempregos, bicos ou favores. Que Deus os proteja.

O que se fazer para garantir condições dignas de sobrevivência e uma velhice respeitosa, a quem abraçou o caminho da arte como profissão?

O Mestre Verdelinho é um homem franzino, mas forte e robusto em suas convicções. Não foi dessa vez que ele desistiu da vida. Ainda há muito por fazer e ele não parece ser homem de descansar antes do serviço terminado.

Mas gente cansa... cansa de sofrer, cansa de tentar, cansa de ver a porta fechada e o caminho estreitando, cansa de vida... cansa, sim.

Salvemos nossos expoentes culturais, antes que eles se cansem e desistam de nós.

“E, Pátria amada, tu que és uma mãe gentil, nos ajude na missão: salve, salve e idolatre o que resta desse nosso povo heróico e que desafia a própria morte, pra que eles não fujam da luta. Aos seus filhos artistas e à Cultura Alagoana, paz no futuro, glória no passado e, por hora, ao menos dignidade e justiça, que já estaria de bom tamanho”.


Foto: Rita Mendonça (Outubro/2006)

4 de novembro de 2006

Desisti de uma vida


Descrição da imagem: roseira de onde pende uma rosa de tom claro.

Desisti de uma vida
Morreu, hoje,
sem choro e sem lamentação
uma vida que sempre julguei ser valiosa.

Morreu porque dei ordem ao meu coração
para apagar-lhe o nome
entre os tantos cuidadosamente tatuados,
acreditava, eu, serem todos merecedores
de minhas lágrimas saudosas.
Equívoco de morte!

Hoje decidi
que algo de vivo e pulsante em minhas veias
precisava chegar ao fim.
Algo que me inflamava feito um apêndice,
que de nada mais servia
a não ser para trazer a mim o risco
das necessidades urgentes,
das surpresas desagradáveis,
das atitudes drásticas,
dos resgates sem planejamento.

Sou mulher de agendamento,
de planos e de estratégias de guerra.
Todas infalíveis, creio eu.
Mas, para isso, para que haja a garantia,
preciso de lápis coloridos, papéis,
e de algum tempo.
Nada de chamadas emergenciais!



Acredito que algo de lixo, de podre
de sujo e de fedido foi sacrificado hoje.
Algo que não mais suportava.
Relações humanas intoleráveis

Se fizessem parte de um preço,
de uma dívida de gratidão ao meu santo protetor,
nesse caso, agüentaria.
Mas não se trata disso.

Nesta data tão comum
e tão pouco glamourosa para marcar eventos
e decisões de peso, morre em mim
a esperança que nutri na humanidade.

Comunico sem lapso de tempo razoável
para que não haja tempo hábil
para os pedidos de desistência
– é que tenho o coração mole
e poucas lágrimas seriam suficientes
para a minha desistência:
Mudo-me com bem poucas lembranças,
ainda hoje, para Marte!


Foto: Simoneide Araújo (abril/2006)

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