5 de novembro de 2006

Salve, Mestre Verdelinho!


Descrição da imagem: Mestre Verdelinho, no palco, entre microfones, empunhando sua viola.  
Ele veste calça social e chapéu marrons e blusa verde de lantejoulas.

Final Feli! Salve, Mestre Verdelinho!
Mas, e a Cultura Alagoana? Quem salva!?

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"O homem é o rei dos animais
e a mulher é a rainha da beleza".
(Verdelinho)

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Há, apenas, alguns dias do lançamento de seu primeiro cd, neste dia 02/11/2006, deu entrada na Unidade de Emergência o Mestre Verdelinho, expoente da cultura alagoana, vítima de AVC e, em seguida, vítima do sucateamento da saúde pública em Alagoas. Foi necessário acionar amigos e admiradores, para lhe garantir um atendimento minimamente decente, ainda que efetuado nos corredores da UE.

Não obstante o susto, felizmente, ontem (04/11/2006), o Mestre teve alta e já se encontra em casa, aos cuidados dos que lhe amam e admiram. Aparentemente, não houve seqüelas.

Aos Mestres, seus seguidores, seus admiradores e todos os que trabalham "de graça, e por graça", vem sendo conferido o mesmo tratamento precário, que o enfrentado no sistema de saúde pública: descaso, assistência mínima (somente emergencial), e em péssimas condições.

O fato deve nos fazer, ao menos, refletir: assim como o Mestre, a Cultura Alagoana, essa "senhora de idade", também já requer cuidados e atenção. E precisa ser tratada com respeito, o que não é favor algum.

Oferece-se apenas o necessário para que ela se mantenha viva, sem se oferecer caminhos para o restabelecimento total de sua saúde, ou seja, a sua consolidação e reconhecimento como fonte de recurso e investimentos em nosso Estado, o que consistiria, de forma transversa, em melhores condições de vida, mais emprego, mais decência.

Não temos muitas indústrias, não temos comércio de grandes proporções. Restam as belezas naturais que Deus nos deu (e que nós sequer conservamos), a alegria e a criatividade de nosso povo, muito bem representadas pelas diversas safras de artistas locais, diga-se de passagem.

Nossos artistas, esses insistentes que não desistem nem quando "acreditar no sonho" significa colocar em risco a sua própria sobrevivência e a de sua família, como ocorreu com o Mestre, não são vistos com “bons olhos”.

Vemos os sorrisos dessa boa gente, em festas e apresentações. Eles nos alegram, tocam nossos corações, embalam nossas paixões e tornam mais especiais os nossos dias.

Mas não nos questionamos em como passam os outros dias da semana, aqueles em que não trazem beleza para os nossos olhos.

Para onde eles vão?

"Depois da festa", retirado o pó de arroz e a casaca colorida, como vivem os nossos "iluminados", os que trazem brilho e sorrisos?

Dedicam-se a compor e produzir, a bem de nossa cultura e para nos trazer mais alegria, ou são obrigados a se desdobrarem em duas, três jornadas de trabalho, para garantir suas sobrevivências e criar decentemente seus filhos, relegando os dons e os sonhos aos poucos momentos de folga, ou mesmo as horas que deveriam dedicar ao seu descanso?

No dia seguinte aos momentos de inspiração ou de palco, ponto batido com atraso, cara inchada, olheiras, baixa concentração e a fama de "vagabundo e irresponsável" parece se confirmar, aos olhos do patrão, por não conseguirem conciliar duas profissões tão eqüidistantes, uma que lhe ocupa a dia, outra que lhe ocupa a noite.

Sim, nossos artistas estão confinados em lojas, escritórios e órgãos públicos.

E esses são considerados os "sortudos".

Tem os que tiveram menos oportunidades e têm de se agarrar aos subempregos, bicos ou favores. Que Deus os proteja.

O que se fazer para garantir condições dignas de sobrevivência e uma velhice respeitosa, a quem abraçou o caminho da arte como profissão?

O Mestre Verdelinho é um homem franzino, mas forte e robusto em suas convicções. Não foi dessa vez que ele desistiu da vida. Ainda há muito por fazer e ele não parece ser homem de descansar antes do serviço terminado.

Mas gente cansa... cansa de sofrer, cansa de tentar, cansa de ver a porta fechada e o caminho estreitando, cansa de vida... cansa, sim.

Salvemos nossos expoentes culturais, antes que eles se cansem e desistam de nós.

“E, Pátria amada, tu que és uma mãe gentil, nos ajude na missão: salve, salve e idolatre o que resta desse nosso povo heróico e que desafia a própria morte, pra que eles não fujam da luta. Aos seus filhos artistas e à Cultura Alagoana, paz no futuro, glória no passado e, por hora, ao menos dignidade e justiça, que já estaria de bom tamanho”.


Foto: Rita Mendonça (Outubro/2006)

2 Comentários:

Anônimo disse...

A vida é sem dúvidas uma caixinha de surpresas. Foi maravilhoso descobri você escritora. Uma faceta interessantíssima, doce e muito humana sua, coisa que não tive a oportunidade de conhecer nas pessoalmente(e isso demora um bom tempo). Foi ótimo ler algumas coisas aqui. Fica aqui então meu parabéns.
beijos
inté a proxima!

Rita Mendonça disse...

Obrigada pela força, minha querida.
Um beijo no coração.

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