O casamento perfeito
vai bem com a minha tristeza.
E assim seguimos
nos enroscando em espiral.
E assim passamos horas
absorvidos na dor,
em alimento à infelicidade,
numa manobra insegura e dorida de contorção,
à procura de aconchego.
Aprendemos, antes de tudo,
a importância da mesma estratégia de sobrevivência:
fazer da lágrima o combustível para gerar vida.
Por isso a identificação imediata,
entre os tantos que caminhavam sob o mesmo sol.
Desde a primeira vez que sentimos o cheiro
da vontade mútua de desaparecer,
em meio a muita fumaça esverdeada,
sabíamos que haveria entendimento
fosse a linguagem vocal,
de gestos ou da mais completa paralisia.
Quando eu simplesmente te negasse sons
ou fechasse os olhos, sabia:
alcançarias a intenção das palavras caladas.
E tu sabias que eu tomaria as atitudes certas
e te protegeria dos constrangimentos,
toda vez que, enfraquecido,
deixasses o personagem entrar em cena
entoando, sem tua permissão,
entre galhadas sonoras
e gestos de alegria exagerada
os teus mais secretos medos.
Cheirávamos a porto seguro.
Então, selamos o pacto de dor.
Prometemo-nos fidelidade eterna:
Só para teus olhos derramaria minhas lágrimas.
Só em mim buscarias guarida do medo da noite.
Só nos teus ombros,
eu descansaria o peso que carrego.
Só em meus ouvidos maldirias o mundo.
Só em tua boca depositaria meu desânimo.
Só a mim permitirias
exalar o cheiro da tua desistência.
Pela benção do sagrado, viramos um.
Na tristeza e na tristeza.
Na doença e na doença.
Por todos os lentos dias de nossa vida.
Serias meu homem... seria tua mulher...
Até que a morte nos unisse
em energia decadente
para todo o sempre.
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