20 de novembro de 2006

Perdendo tempo



Descrição da imagem: em fundo branco, 
folhas de espada de Santa Bárbara

Perdendo Tempo 

(Em 29/10/1987)



Perdi tempo na caminhada fúnebre de meus erros.
Perdi tempo nas paradas.
Tempo foi perdido quando, cansada, caí
e outros por sobre mim passaram,
seguindo suas próprias trajetórias.
Meu suor, às vezes, fedido,
também já respingou corpos caídos
dos que em outro momento fracassaram.
Tantos de nós ficam no meio do caminho...
Tantos damos nossos corpos ao chão,
para compor a estrada,
em que alguns de nós vai prosseguir...
Tantos de nós significam tão pouco...
E, entre eles, tantos poderiam ser apontados, hoje,
como “os melhores”, se não tivessem desistido,
se tivessem levantado no momento certo,
mesmo que o chão da estrada ficasse irregular,
para as gerações futuras, pela falta de seus contornos.
Tenho asco de quem trapaceia
Cuspo na cara de quem vence só pela glória
ou reconhecimento,
sem saber o que fazer com sua vitória.
Sobrevivo aos ataques, às traições.
E prossigo, num cortejo de miseráveis
a procurado da almas brancas
e olhares transparentes,
que amainem meu intenso desespero.
Passo a mão em meus cabelos,
ondulados como as irregularidades da estrada
da qual se desprenderam
os corpos de quem não se deu por vencido
– marcas de quem não aceitou o golpe –
e canto, baixo, uma canção sem melodia.
Tento cair em teus braços, mas não consigo sonhar.
Choro por minha impotência
mas é assim que aprendo
a ser melhor e mais rápido
que o fim trágico que me espreita.
Completo minha jornada, mas não me orgulho.
Venço a minha caminhada, mas não sorrio.
Uns desistiram, outros padeceram em luta pessoal.
E eu, que aparentemente venci,
fui condenada a viver só
na casa de cômodos transparentes
que anos vem guardando meu coração.

Foto: Rita Mendonça (setembro/2006)

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