22 de dezembro de 2006



Estarei na roça, off line até 03/01/2007.

Para todos, bons festejos.

Meu balanço em 2006: positivo.

Que venha 2007!!!

Estrela

21 de dezembro de 2006

Contraditório

Descrição da imagem: a frente de fundo escuro, composto pela vegetação do local, uma flor branca, em que pistilos amarelados e esverdeados pendem.. Uma das folhas tem tons rosa e alaranjados.


Contraditório


Contraditório, este sistema do tempo.
A gente vai ficando mais velho
e aí vai entendendo
o funcionamento das coisas
e o nosso próprio funcionamento.

E fica mais “ligth”, mais descolado.
Já não “encuca” tanto com bobagens.
Mas, ao mesmo tempo, vai ficando mais seletivo,
mais exigente, menos tolerante.
Estranho conter em um mesmo lugar
dois sentimentos tão antagônicos,
o “exigir” e o “permitir”.
Só mesmo a sabedoria da vida,
para dar resposta
a equação tão delicada de sentimentos.

Que somos nós?
Somos caos em busca de equilíbrio?
Ou equilibrados com surtos violentos?
Cabo de guerra de sentimentos reversos.
Talvez a resposta exata
nos chegue com o fim dos nossos dias.
Uma pena...
Tarde demais vamos constatar
que muita dor poderia ter sido evitada no caminho.

16 de dezembro de 2006

Coleção


Descrição da imagem: várias margarinas repousa sob fundo escuro de outras vegetações.



Coleção



Há muito coleciono perdas.
Tenho um álbum cheinho delas.
Todas organizadas em catálogo,
uma por folha.
As mais esquisitas,
eu mantenho em lugar de destaque,
em páginas decoradas com adesivos coloridos,
para que se chame atenção, como devido.
Luas, sóis, flores, boquinhas e estrelas sorridentes
fazem à moldura de minhas esperanças malogradas

Ultimamente, tem tanta gente
colecionando desencantos
que se não tomo providência logo,
minha coleção sairá do primeiro lugar do 'rancking'
e quero ser sempre a melhor da categoria.


Preciso aumentar minha coleção.
Tenho uns desgostos repetidos
que não exponho, sabe?
Estão guardados em uma caixinha alaranjada,
tudo muito bem conservado na memória.
O motivo é que são exemplares raros,
mas que para mim
aconteceram uma segunda vez.
Tem alguém com desapontamentos duplicados,
disposto a fazermos troca, um por um?

14 de dezembro de 2006

Segredos


Descrição da imagem: num tapete de vegetação verde repousam florzinhas parecidas com margarida, 
só que em tom rosa bem chamativo e com miolinho branco.

Segredos
(Para Beatriz, também)

.
Eu conheço o teu mundo, pequena,
e nele também fiz morada
e me protegi por longos anos
entre os arbustos frondosos
e as flores gigantes de girassóis.

Conheço tuas fadinhas,
teus duendes,
e os teus príncipes também,
pois com eles convivi
entre aventuras e sorrisos.
Corremos juntos atrás do arco-íris,
dos vaga-lumes e das libélulas apressadas,
e nos atirávamos nos riachos cristalinos
e do alto dos penhascos em vôos rasantes.

Sei dos teus medos,
pois também vi os dragões
e os vampiros de olhos vermelhos
que se escondiam entre os sonhos bons
tentando surpreender.
E são assustadores, mesmo.
Mas asseguro a ti: não temas; tudo vai dar certo.
No final, é você quem vai vencer.

Tenha calma, portanto.
E desfrute das árvores que falam,
das nuvens de algodão que brincam
e dos rios de chocolate que se oferecem.
E confidencio: farão falta,
quando finalmente
vieres inteira para o lado de cá
onde tudo está envolto
em névoa cinzenta e pesada,
por nossa própria ousadia
de nos permitir entristecer
com coisas pequenas e sem importância.

E aconselho: guarde tudo na memória.
Guarde as lembranças todas.
Dos sóis sorridentes, das joaninhas lustrosas
e dos sapinhos peraltas
que brincam nas vitórias-régias.
Eles são o combustível para seguires adiante.
É que essas tuas coisinhas todas
são ensaios para as coisas grandiosas
que estão desenhadas em teu caminho, verás.

Sim, já me mostrasses teus propósitos
desde as sensações em meu ventre.
Impetuosa, determinada, resoluta.
Viesses com teus sinais e tuas missões.

Segue teu caminho.
E segue com flores nas margens,
com nuvens que guardam,
com luas que acompanham a caminhada
e com estrelas que iluminam tudo
para que não tenhas medo.
Nunca esqueças de necessidade de cor e versos
que tem os que nasceram de um sonho, como você.
Anjo meu, anjo de mim,
viver é o nosso segredo.
Guarde-o com cuidado.

13 de dezembro de 2006

Um dia atrás do outro

Descrição da imagem: sob fundo escuro composto de outras vegetações, 
uma junção de várias flores pequeninas e brancas foram um buquê natural.

Um dia atrás do outro


Os dias vêm se sucedendo
numa cadência que não me diz respeito.
Os dias nascem e se encerram
com o mesmo colorido,
o mesmo calor ameno
e a mesma penetração de luz.
Nada muda.
A vida parece não caminhar em meu ritmo.
Sim, sei que ela passa. Sei sim.
Vejo as marcas da vida
na pele de minhas mãos
e ao redor de meus olhos.
Odeio esses sinais do tempo!
Não poderiam ser outras,
em locais menos visíveis,
essas marcas do que vivi?
Não poderia a aridez da idade
se concentrar toda num lugar só
lá na sola do meu pé esquerdo,
como um arremate bem feito,
onde eu só pudesse vê-lo
com muita dificuldade, em contorsão?
Ou por que não no avesso de minha pele,
lá pela nunca, perdido entre os cabelos
em costura de fio invisível?
Construí minha vida, estou certa.
Sou inquieta demais p
ara ficar na janela escutando música.
Mas nos últimos tempos
os acontecimentos parecem
alheios a meu ritmo.
A vida parece ter me esquecido
em algum cantinho sem graça,
em alguma estrada marginal,
e nada me acontece, que seja digno de registro.
Estou numa espécie de ponto de apoio
onde as pessoas param,
se entregam ao cansaço,
se recompõem tomam fôlego e prosseguem.
Sou a que diz as palavras de perseverança
bravura e intrepidez.
A que dá força para prosseguirem.
Mas quando elas se animam e vão adiante,
permaneço em minha melancolia atonal,
parada, no tal cantinho
aguardando não sei bem o quê,
e vindo não sei de onde.
Sou, mesmo, da equipe de retaguarda.
A que nunca vai cruzar a linha de chegada,
a que nunca vai receber a taça no podium
mas que participou ativamente da campanha,
no suporte, nos preparativos, nas negociações.
Nunca conduzi feitos magistrais,
mas sempre estou por perto
de quem os deu vida.
Uso bem, e em meu favor,
as descobertas alheias,
mas nunca inventei nada 
que viesse a me trazer glória ou prestígio,
ou que levasse meu nome
a ser citado em conversas alheias
travadas há quilômetros de distância.
Só uma vantagem:
se de bom não me vieram ocorrências,
ao menos os infortúnios passaram longe.
Os que amo, não morreram ainda.
Os que convivo, não se machucaram
e nem machucaram ninguém.
A vida segue sua cadência,
num som grave, de batida oca, faceiro,
mas em tom de acompanhamento.
Batuque que sozinha não forma melodia.
Dilema: não sei se espero
a vida concluir esse seu ciclo enfadonho,
em marcação amena,
ou se acelero os ritmos de meu coração
e me atiro desvairada numa rota que não é minha
só para sentir o gosto apimentado
da aventura alheia.
Sinto que esses dias não me pertencem.
Foto: Emanuel Galvão (novembro/2006)

Missão no meu mundo


Descrição da imagem: várias flores azuis, de centro branco e amarelo, com raios saindo do centro da flor,em tom mais escuro de azul, a imagem só foca as flores.


Missão no meu mundo
A minha ordem não tem graça alguma.
As coisas se dispõem compassadas
mas o ritmo desse compasso militarizado
é enfadonho em minha vida.
Vivo assim neste mundo.

Qual a última vez que andei descalça?
Deve ter sido o primeiro.
O primeiro e o último dia de aventura
se fundiram num só.
Provei e reprovei a idéia de liberdade
em um só ato.
Não tenho tempo
Para as coisas simples do mundo.

Tenho idéia fixa
em viver tudo o que tenho como meu,
por todo o tempo que possa.
E aí não tenho tempo
para muita coisa que reste no mundo.

Alguns vieram com propósitos
tatuados no pulso, na nuca, na sola dos pés.
A mim nada mais importa
que completar minha missão terrena.
A que foi tatuada em outro mundo.

Então, o tempo que seria tempo
de nada fazer, eu dedico a remoer idéias
e a decifrar enigmas
de um universo mais justo e solidário
que o que se põe.
Muitos vieram com a mesma marca.
Temos a missão de melhorar o mundo.

Nas horas que deveriam ser as vagas,
as dedicadas ao nada, não relaxo.
Nada de recreio, nada de intervalo.
Construo, destruo e reconstruo,
sem trégua.
Tenho a obrigação de melhorar o mundo

A minha ordem me mata aos poucos.
Mas, cedo ou tarde, quem é que não vai morrer?
Então, pouco importa. Permaneço.
Se me foi dado vida e itinerário,
faço por onde merecer o mistério do mundo.

Incito povos, por meio do sangue misto que me habita,
fomento revoluções pessoais,
instigo discussões homéricas entre o ego e o id.
Quero ser o melhor que possa,
com esse corpo e essa mente com que vim ao mundo.

Alimento a alma, instruo a mente,
e para o corpo, litros e litros de creme hidratante
e óleos essenciais.
Tenho obrigação de ser o melhor possível,
neste mundo.

Ser agradável aos olhos faz parte da missão.
Fica mais fácil o convencimento, a persuasão.
Então me visto de brilho, seduzo, sorrio,
lanço olhares como flechas de conquista,
acendo incensos e conquisto o mundo.

8 de dezembro de 2006

Duas gotas de delírio

Descrição da imagem: sob folhas verde, duas flores rosa claro, com centro amarelo


Duas gotas de delírio
(13/11/1987)
Corro em direção ao sol
Na procura do que me dê forças
e sozinho não consegui encontrar.
Vou de carona num coração qualquer, de borracha,
que tem a forma que sonhei e nunca se rompe,
não pedindo alimento.
Ando de costas: tenho medo de traição.
Respiro fundo na esperança de purificação.
Tenho medo das palavras dos homens
Evito olhares que se cruzem e se choquem em dor.
Desvio os sorrisos que me causem espanto ou admiração.
Sei que sempre quero demais.
Mas tem muita coisa omitida em meu desejo.
Também sacrifico sonhos, coleciono frustrações.
Só que destilo tudo, e aí viram versos.

Estimulando algodões

Descrição da imagem: ao centro de um fundo escuro, composto por outras vegetações, duas flores brancas, de centro rosado e amarelado. Uma delas se encontra no foco e a outra desfocada.


Estimulando algodões
(25/11/1987)
À primeira vista, parece algodão
Algodão doce
Branco ou de leve cor
O cheiro é de amor
Macio ao tato
Gelatinoso à carícia
Receptivo às sensações
Respondendo às minhas fantasias
Cúmplice
Devoro com o meu desejo
Tateio em meus sonhos
A resposta que preciso é a tua procura
Pelas minhas mãos em teus seios.

Vácuo

Descrição da imagem: em fundo verde, uma flor parecida com a margarida se encontra posicionada ao centro. Só que é toda amarela.

VÁCUO
(Julho/1987)




Caminho por meio de sonhos sonoros.
Traio a confiança de meu corpo cansado e doente.
Grito para o nada e espero o retorno do eco
Vindo do oco de meu vazio anterior.
É promessa, sim : juro me querer para sempre.
A mim faço essas promessas e outros fúteis desabafos.
Minha morada é no coração de quem há muito já se foi.
Corro pelo arrebol de minha consciência
Ela brilha, cansada, insistente.
Me procuro...
É claro que não me encontro.
Eu não existo!!!

30 de novembro de 2006


Meus queridos,

Desde agosto que baixou o "caboclo" e não paro de escrever.
Como uma benção, foi lançado o edital para o concurso "Alagoas em Cena".
Não deu outra: corri, juntei tudo o que tinha escrito e agora sou uma das candidatas no certame.
Se for escolhida, publico o meu livro.
Se não, vou me esforçar para lançá-lo independente, em breve.
Todos os poemas a serem publicados estão divulgados neste blog.
Eis o primeiro esboço da capa. Obrigada pela força, Jurandir Bozo, Bob Omena, Emanuel Galvão e Napoleão Idelfonso.
Torçam por mim, ok?

28 de novembro de 2006

Queridos amigos, leitores e "torcedores",
Inscreverei meu projeto de publicação do livro de Poemas "Palavras de Absinto" no concurso Alagoas em Cena, se Deus quiser, até amanhã.
Estou aqui no corre-corre para atender os requisitos do edital, e envolvida com elaboração de palestra que vou proferir agora a tarde, sobre pessoas com deficiência e reabilitados, em evento organizado pelo INSS. Tudo isso, enquanto apronto minha filhota para a escola, rs!
Corrente positiva, em meu favor, tá bom, meus queridos?
Um grande abraço.

25 de novembro de 2006

Palavras de absinto em meu jardim


Descrição da imagem: vários cravos, em tons de vermelho e amarelo. Ao centro, um cravo cujas pétalas são em degradê branco e vermelho.


Palavras de absinto em meu jardim 

Adormeci no jardim
e acordei com o perfume das flores
impregnando o nariz.
Logo descobri que estava fixado
na base de minha nuca,
no jardim que criteriosamente imprimi em relevo
para nunca mais esquecer de onde vim,
para onde vou e o que sou.
O cheiro, adquiri no repouso.
É que fiz um travesseiro de gérberas
e das tantas outras flores vermelhas,
que colhi no escuro da noite,
para depositar meu cansaço,
depois que enfrentasse os fantasmas perfumados.
O perfume era de absinto,
Misturado com suor e medo de fracasso.
Adrenalina!!! Os cães loucos vão me farejar!!!
Sempre soube do perigo de adentrar no jardim
Depois que o sol se pusesse. Mas fui.
Estou enfrentando os medos!
E consegui me acalmar o suficiente
para adormecer, ainda que de cansaço,
ao menos por alguns minutos,
quando tudo estava em silencioso e calmo,
pouco antes do nascer do sol, lá no horizonte.
Sua luz anunciava
Que o perigo tinha sido vencido,
Ao menos por mais um dia.
Estou ousando mais:
ando ensaiando passos mais firmes
entre os canteiro irregulares de perigo e beleza.
Há palavras pontiagudas
se espalhando por todos os lugares,
escondidas entre as pétalas e as folhas,
em forma de pequenas lanças,
imitando espinhos agressivos,
ocres, insistentes, traiçoeiros.
Todo o cuidado é pouco:
se me picarem, sob o torpor do quase-veneno,
escreverei sem fim,
revelando segredos, medos e desejos.
Desse jeito confessarei quando foi que fraquejei
e quando perdi o interesse de prosseguir.
“Não, não se assuste tanto assim...”
As coisas mudaram.
Os meus dedos estão calejando
cada vez mais depressa.
Estou sobrevivendo cada vez mais imune
às feridas envenenadas.
A pele da ponta dos dedos engrossou.
Já coleciono várias cicatrizes.
Mas sou exigente:
para acreditar os ensaios dispensáveis,
entendo que careço de mais dor.
“Tenha calma”.
A diferença fundamental é que os espinhos
hoje em dia, até penetram, machucam,
mas tudo fica por aí.
Não conseguem mais profundidade
para oferecer risco
de ferida de morte ou mutilação.
Tem momentos em que me vem
o arrepio da proximidade do perigo.
Mas aprendi que este é o momento
em que se precisa ter calma.
Sento em algum cantinho do jardim
e pacientemente vou forçando a saída do espigão.
Às vezes demora anos para ser expulso.
“Mas, paciência. Sempre sai”.
Fico aguardando, quando nada posso fazer...
E quando sai, volto a me jogar para frente.
Cabelos ao vento e fúria de uma primeira vez.
Às vezes, quando se força a saída,
O espinho se parte em pedaços
e algo de sujo e endurecido permanece por dentro,
contaminando, corroendo, inflamando...
Mas passei a entender o processo:
isto contribui para a formação da calosidade,
que é o que me protege.
“Sai, paciência, que sempre sai”.
Pele grossa é pele feia, árida e sem viço.
Mas é pele útil, levando-se em consideração
a necessidade de vencer a guerra de sentimentos
tão própria da natureza humana.
O tempo...
O tempo vem me fazendo os calos...
Ainda não tenho como avaliar
se foi boa coisa o que ele me fez.
Vou precisar de mais tempo para poder responder...
Enquanto isso, vou circulando os canteiros
já em postura de “vencedora de batalha”,
provocando as flores
e desafiando as palavras aos berros.
Assim, obrigo-as a me atacar de novo,
e de novo, e de novo...
Continuo a guerra santa,
acelerando o meu treinamento pra vida.
É que tenho pressa.
Quero bom êxito agora,
para me atirar neste restinho de tempo
que ainda me sobra.

23 de novembro de 2006

Caminhos delirantes


Descrição da imagem: fundo escuro, de folhas e galhos. A frente, várias florzinhas brancas de tamanho médio.

Caminhos Delirantes
(28/10/1987)
.
Vagando por caminhos escuros
Acompanhada de mim
É o mesmo que estar sozinha
Não ou companhia que valha
Há pouco tempo vagueio
Pelo meu imaginário
Passos tímidos, temendo o anoitecer
Nada é real
As questões do meu coração
Eu traduzo em gemidos
Em fases de intensa dor, viram uivos
Pego o meu amor e viro pelo avesso
Sei que um dia despertarei
Então, por hora, relaxe...
Olhos cegos que fitam o horizonte
Mar que abraça impotente
Os gritos, estes serão todos queimados
Como devem queimar todas as bruxas
Os que sobrem eu dissolvo
Entre uma lágrima e outra
Tudo ilusão
Atalhos são caminhos errantes do coração
E quem não busca coração
Fica livre da dor e do desencanto
Mas vira areia após o terceiro dia

Platônico Amor


Descrição da Imagem: a flor é amarelo esverdeado, formada pela junção de várias floriznhas pequenas.


Platônico Amor
(30/10/1987)


A minha amnésia é só para o que me provoque desejo.
No mais das vezes, fico envolvida com outros prazeres
Menos nobres, porém, socialmente aprovados
É comum que me busque e não me encontre
Só do que recordo no passado
É da ausência de sombra e de formas
Em meus surtos, não consigo decifrar cheiros
Parece que não pertenço a este mundo
Nada de recordações ele me traz
Sei que um dia já amei, mas não lembro a quem
Quem será que detém a hipoteca de meu coração?
Seu olhar seria triste,
como busco retratar nos desenhos, ou felino?
Nada vejo...
Sem lembranças
Acho que se lembrasse, por certo, iria chorar
Mas chorar alivia tanto...
Te crio e recrio em imaginação
O dono invisível do meu coração é misterioso
E segredos excitam
Permaneço inerte, para não alterar a cena
Certamente, um dia saberás
Do sentimento que me habita

O Beijo não vem da boca


Descrição da Imagem:a flor é branca, com um pistilo rosa no centro, de onde saem sementinhas amarelas.



O beijo não vem da boca
(08/12/1987)

Numa sanha louca
Fecharam os olhos aguardando o êxtase
Lábios entreabertos, mas levemente tensos
Por segundos perdiam-se em sorrisos de satisfação
Lenta aproximação
As batidas do coração buscam o ritmo
A adrelina gerada pelo gosto do proibido
Começa a se diluir de fora para dentro
Suor tem sabor de tempero
E dão a tônica do que estar por vir
Têmporas se roçam
A pelugem do rosto roça ao vento
Começa a brotar cumplicidade
Lábios se procuram
Emoções brotam sem muito controle
Leves toques, pressões mais intensas
Sucções, línguas que se enroscam
Respiração que perde o compasso
Olhos entreabertos
A atração se confirma recíproca
Aos poucos, os corações se cadenciam
Finalmente, a grande descoberta:
O beijo não vem da boca!!!

Desejos e delícias


Desejos e delícias
(1985)




Solidão corrói...
Saio se rumo, fugindo, como de costume
Lanchonete, banana split...
Vícios menores 
que com a idade vão se transformar
em boates e muitos tragos de cigarro.
Quem sabe você me aparece
E fala algo que eu precise ouvir.
Sente ao meu lado...
Se bem me lembro,
O milk shake é de flocos e passas ao rum
Para garantir a embriaguês
E esquecer as dúvidas e incertezas.
Passeia com a língua pelos lábios.
Há um feitiço no ar...
São essas delícias de verão.
O velho truque 
de pegar guardanapos 
do outro lado do balcão e pronto:
o roçar do braço no meu peito.
Pede desculpas e diz que foi sem querer.
Por trás dos olhos amarelos, um homem licensioso.
A estratégia é das mais ardilosas
Seu potencial bélico é para detonar sentimentos.
Diz que és só meu. Finjo que acredito.
Nada de mau, eu te perdôo
Para isso, vim ao mundo 
Encapsulada em um corpo de mulher.

Nos braços, nos olhos e no coração


Descrição da imagem: Folhagem verde em segundo plano. Ao centro, flores brancas com centro amarelo, rodeado de tons roxo.

Nos braços, nos olhos e no coração
(07/09/2006)


Quero estar em você
E me tornar parte da essência do teu suor
Quero estar por trás do prazer
Ser a mão na hora da masturbação
Quero virar uma tatuagem grande e dolorosa
Fazer parte do que chamas de plenitude
Quero ser a energia que movimenta tuas escolhas
Não quero ser as lágrimas
Mas quero ser a mão que as enxuga
E que também faz manobras maliciosas em espiral
Só quero ser a lágrima sob uma condição
Se ela escorrer pelo canto de tua boca
E a resgatares com a ponta de tua língua quente
Aí, sim, quero ser a lágrima 
E em delírio passarei a compor tua saliva
O teu coração, eu quero ser
Mas, cuidado, você, 
Que o farei parar em momento decisivo
Exatamente na hora 
Em que, sei, me sorrirás depois do gozo.
É para que guardes para sempre em tua retina
Como um negativo revelado
O meu semblante de felicidade.

Hiroshima Sentimental


Descrição da imagem: a flor parece uma espiga branca, com grãos um pouco mais esparsados e mais pronunciados.

Hiroshima Sentimental
(23/07/1987)


Não faça de conta
Que como amigo já está bom
Se quando te olho
O que vejo são destroços
De mais uma ‘hiroshima sentimental’

As cartas amarelaram
Os lençóis desbotaram
E a flor cansou de ser viçosa
E de pedir paz e amor

Não junte o que restou
Não cole os cacos
Não salve o amor
Deixe-o afogar-se nas lágrimas
Antes que elas evaporem

A cama grita a saudade
O quarto reclama a ausência
O espelho perdeu o reflexo da dor

Sinais da fuga do sofrimento
Prenúncio do cansaço e do lamento
Falta das nossas formas 
Siamesas em sombra.

Amor gosta de penumbra
De se enquadrar 
Em cena imortalizada

Sombras implodem
Mas o estopim da bomba 
De sentimentos que alimentamos
Permanece intacto
Sempre acreditando em uma nova chance.

Alcatraz

Descrição da Imagem: ao centro, uma flor vermelha com sete pétalas. 
Ao centro de cada pétala, outras pétalas menores, brancas. O centro da flor é amarela.


Alcatraz
(1986)

Num vôo razante
Pelo céu do teu corpo
Mergulhei de cabeça
No teu mundo torto.
E consciente sendo
E inconsciente ficando
E mesmo te querendo
Eu fui te deixando.
E tentei escapar
De tuas garras felinas
Para me entregar
A paixões libertinas.
O magnético olhar
Vindo do teu ser
Atraia o meu corpo
Me unia a você.
E o insucesso de fuga
Me fez entender
Que não sou só tua
Sou parte de você.

Poeminha Colorido


Descrição da Imagem: em segundo plano, folhagens verdes; 
ao centro, pendem duas flores, uma rosa e uma lilás.


Poeminha Colorido
(1986)


Num dia AZUL
Juntamos nossos corpos MORENOS
Por sobre a VERDE relva
Num enroscar contínuo de braços e pernas

O sol tratou de se esconder
VERMELHO de vergonha
Atrás das BRANCAS nuvens
Que curiosas
Participavam de nosso amor

Já as VERDES árvores
Nos presenteavam
Com uma alegre sinfonia
E algumas TRANSPARENTES
Gotas de orvalho
Que lavava nossos corpos suados
Perdidos em devaneios múltiplos

A noite veio mais cedo
Pois as estrelas curiosas
Já não se contiam
E emitiam um BRILHO intenso
Para melhor nos observar

A coitada da lua EMPALIDECEU
E a emoção era tanta
Que toda a natureza
Gozou junta

Triângulo de Emoções


Descrição da imagem: em fundo escuro, ao centro, 
um cravo de pétalas rosadas e pontas brancas


Triângulo de Emoções
(29/10/1987)

Eram duas arestas
De emoções paralelas
Formas perfeitas
Retilíneos desejos
Causas e formas
De admirável nexo
E tornaram-se três
De exatos ângulos
Um triângulo sentimental

22 de novembro de 2006

Peito de Mulher


Descrição da imagem: Diversas flores azuladas, 
com algumas pontas de pétalas amarelas e centro verde


Peito de Mulher
(1986)
O peito adormece
E esquece
De permanecer oculto
Trazendo a mostra
O que a blusa transparente
Pouco guarda.
Montes espessos
De cor formosa
Guarda no íntimo
O coração digno.
A áurea é rosa
A auréola é rósea
O cheiro é de fêmea
A menina é a que dorme
Quando acordada
é a mulher que comanda.
O seio é firme e úmido.
E quando a gravidade
Ou a gravidez
Vencer a firmeza
A dignidade do coração
É que fará às vezes da rijeza.
E permanecerão belos.
Peito seduz e traz prazer
O que faz com que se esqueça
Que com ele também vem segurança
E combustível para a vida.
Simbólico como a flor
Faz escravo os seus homens-meninos
Que endeusam este templo sagrado
Com poemas de amor.

21 de novembro de 2006

Por enquanto, nada


Descrição da imagem: em fundo branco, 
em segundo plano folhas verdes pontiagudas.  
Ao centro, três orquídeas em tons de lilás e roxo.


Por enquanto, nada
(28/09/1987)
Arde a chama do sentimento perdido.
Ao mesmo, tempo chove uma chuva.
Tão fina... quase imperceptível,
vista somente pelos meus olhos tristes.
Olhos que miram, sem perspectiva, o horizonte.


Chove chuva, chove lágrimas, chove mágoas.
Tento mergulhar nela de cabeça
Lavar as angústias, os pensamentos que pesam,
tirar seu cheiro
e extinguir a labareda incessante
que lapida meu coração de pedra
num formato que não desejo.
A isto, chamo amor.



Engulo minhas lágrimas secas,
suavizadas pelas gotas de chuva ácida.
O que me resta, esta sou eu mesma.


Tornei-me tão comum ao tentar me retratar para ti...
Numa eterna guerra interior
fiz um amor mudo, sem palavras.
Eu não falo nada, mas você sabe tudo.


Querendo o teu erro,
traduzo-me em tua língua.
Língua ávida de beijos,
e você nem ao menos saberá.


Espero, ansiosa, o sorriso
que dissolverá a incerteza.
Mas ele não vem.
Nada mais faz sentido: estou sem você.


É o fim do amor?
Oh, não! Eu terei minha chance de sofrer.
É que eu estou em você.
E vou me ludibriar, até que se acabe o amor.
Mas aí eu te darei mais amor.
E tudo começa de onde nem terminou.


Mergulho no teu profundo azul.
E vou acabar me afogando.
A estrela vai se apagando...
Sinto o teu carinho estrangulando
Entrego-me a um momento casual...
E para o que não tem solução,
é proibido chorar.
Faço do meu louco amor
minha única e doce ilusão.


E enquanto canto uma canção desentoada,
chorando minha mágoa, calada,
e pedindo que não me condenes à tua ausência.
Pois eu não sou inteira - a isto chamo solidão.

Pane Sentimental


 Descrição da imagem: diversas florzinhas azuis e folhas verdes pendem de galho. 
Fundo de pedras cinzentas em segundo plano.
Pane Sentimental
(09/09/1987)
.
Eu já nem sei se é a ti mesmo que quero
ou se o que quero é o meu eu,
que por ti anda perdido.
Eu já nem sei se desejo o teu desatino
ou se apenas me enfeitiço com teu olhar felino.
Teu corpo é supérfluo,
tua mente dispensável.
Então o que quero?
Um momento agradável?
Eu não sei. Não me pergunte.
Eu acho que esqueci.
A tua pergunta é a minha resposta.
E se insistires em indagar,
respondo algo que já li.
Ando meio “down”,
embora minha entrega seja total.
Ando sofrendo, você me diz
É verdade, estás certo
Mas no mais das vezes, eu sou feliz
Porque sou cheia de minha própria luz - a da Estrela.


Achem meu coração

Descrição da imagem: fundo vermelho e galho contendo diversas florzinhas brancas
pendem vindo do lado direito da foto.

Achem meu coração
(11/09/1987)

Achem meu coração
Que se perdeu na primeira curva,
na primeira paixão.
Achem meu coração
Que partiu sozinho
rumo errante...
Achem meu coração decepção.
Achem meu coração.
O que já não palpita
mas se precipita.
Achem meu coração
O que sempre foi traquino.
Mas que na dor fugiu feito menino.
Achem meu coração.
O que gosta de aventura e de emoção.
Achem meu coração
Dê-me vida
Sem ele sou só decepção
Achem meu coração...
Achem meu coração...

Sonhando demais


 Descrição da imagem:  Ao fundo, em segundo plano, vegetação verde. 
Ao centro, flor amarela parecida com um lírio.
Sonhando demais
(Em 21/08/1987)

Eu queria ter você pra mim
Assim...
Sem precisar dizer “eu te amo”.
Eu queria o teu cheiro, o teu paladar.
Eu queria afagar os teus pêlos,
enquanto tuas mãos repousassem em mim,
tocando o meu corpo virginal... de você.
Me dá um beijo, por favor...
Mata o meu desejo...
Mesmo por caridade.
No fundo eu não quero o teu ser.
Dá ele a eternidade...
E quero a tua essência
Teu cheiro que me seduz
Em troca, te dou o nada
Só a exaustão do despertar do amor.

20 de novembro de 2006

Perdendo tempo



Descrição da imagem: em fundo branco, 
folhas de espada de Santa Bárbara

Perdendo Tempo 

(Em 29/10/1987)



Perdi tempo na caminhada fúnebre de meus erros.
Perdi tempo nas paradas.
Tempo foi perdido quando, cansada, caí
e outros por sobre mim passaram,
seguindo suas próprias trajetórias.
Meu suor, às vezes, fedido,
também já respingou corpos caídos
dos que em outro momento fracassaram.
Tantos de nós ficam no meio do caminho...
Tantos damos nossos corpos ao chão,
para compor a estrada,
em que alguns de nós vai prosseguir...
Tantos de nós significam tão pouco...
E, entre eles, tantos poderiam ser apontados, hoje,
como “os melhores”, se não tivessem desistido,
se tivessem levantado no momento certo,
mesmo que o chão da estrada ficasse irregular,
para as gerações futuras, pela falta de seus contornos.
Tenho asco de quem trapaceia
Cuspo na cara de quem vence só pela glória
ou reconhecimento,
sem saber o que fazer com sua vitória.
Sobrevivo aos ataques, às traições.
E prossigo, num cortejo de miseráveis
a procurado da almas brancas
e olhares transparentes,
que amainem meu intenso desespero.
Passo a mão em meus cabelos,
ondulados como as irregularidades da estrada
da qual se desprenderam
os corpos de quem não se deu por vencido
– marcas de quem não aceitou o golpe –
e canto, baixo, uma canção sem melodia.
Tento cair em teus braços, mas não consigo sonhar.
Choro por minha impotência
mas é assim que aprendo
a ser melhor e mais rápido
que o fim trágico que me espreita.
Completo minha jornada, mas não me orgulho.
Venço a minha caminhada, mas não sorrio.
Uns desistiram, outros padeceram em luta pessoal.
E eu, que aparentemente venci,
fui condenada a viver só
na casa de cômodos transparentes
que anos vem guardando meu coração.

Foto: Rita Mendonça (setembro/2006)

9 de novembro de 2006

Indescritível felicidade


Descrição da imagem: ao fundo, céu azul. Do lado esquerdo da foto, pende uma flor rosada.


Indescritível Felicidade

Ei, por incrível que pareça,
eu não sou triste!
Esta é apenas uma maneira efetiva
para vomitar desconfortos
que porventura me invadam
durante o trabalho
no horário comercial.
Até aí, tudo normal.

E por falar em comércio,
a jogada é essa:
transforma-se em negócio rentável
o que se expele pelos dedos.
Em vez de socos, palavras.
Palavras indesejadas - as de absinto.
Afinal, nada pode ser em vão,
e até as desgraças têm uma razão.

Após um dia cansativo de trabalho,
Nada melhor que expelir com ímpeto
a fadiga em forma de poema.
Respeite-se a rima,
já que trabalho é coisa séria.

Amigo triste, filho doente,
ou contas a pagar,
justificam um soneto.

Amor não correspondido
providencie um haicai.

Morte de quem se ama,
Comunica-se por dois quintetos
e três sextetos, alternados,
de versos brancos, simples.
Não se exija muito
em situações de dor.

E os momentos bons???
Estes, eu guardo para mim
e nunca registro.
Momentos bons são indescritíveis.

Não sei como explicar um beijo,
um buquê de flores,
o calor que vem do sexo,
o cheiro de chocolate,
o nascimento de um filho,
a sensação de um mergulho no mar,
uma tarde na rede, coca-cola bem gelada.
Não levo jeito para ruminar felicidade.
Agarro os momentos bons com energia
- pois tenho medo que eles fujam -
e os vivo intensamente.
E só.

O casamento perfeito


Descrição da imagem: uma margarida, que ocupa toda a foto.

O Casamento Perfeito


O problema é que sua densidade
vai bem com a minha tristeza.
E assim seguimos
nos enroscando em espiral.
E assim passamos horas
absorvidos na dor,
em alimento à infelicidade,
numa manobra insegura e dorida de contorção,
à procura de aconchego.

Aprendemos, antes de tudo,
a importância da mesma estratégia de sobrevivência:
fazer da lágrima o combustível para gerar vida.
Por isso a identificação imediata,
entre os tantos que caminhavam sob o mesmo sol.

Desde a primeira vez que sentimos o cheiro
da vontade mútua de desaparecer,
em meio a muita fumaça esverdeada,
sabíamos que haveria entendimento
fosse a linguagem vocal,
de gestos ou da mais completa paralisia.

Quando eu simplesmente te negasse sons
ou fechasse os olhos, sabia:
alcançarias a intenção das palavras caladas.

E tu sabias que eu tomaria as atitudes certas
e te protegeria dos constrangimentos,
toda vez que, enfraquecido,
deixasses o personagem entrar em cena
entoando, sem tua permissão,
entre galhadas sonoras
e gestos de alegria exagerada
os teus mais secretos medos.

Cheirávamos a porto seguro.
Então, selamos o pacto de dor.
Prometemo-nos fidelidade eterna:
Só para teus olhos derramaria minhas lágrimas.
Só em mim buscarias guarida do medo da noite.
Só nos teus ombros,
eu descansaria o peso que carrego.
Só em meus ouvidos maldirias o mundo.
Só em tua boca depositaria meu desânimo.
Só a mim permitirias
exalar o cheiro da tua desistência.

Pela benção do sagrado, viramos um.
Na tristeza e na tristeza.
Na doença e na doença.
Por todos os lentos dias de nossa vida.
Serias meu homem... seria tua mulher...
Até que a morte nos unisse
em energia decadente
para todo o sempre.

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