Missão no meu mundo
Missão no meu mundo
A minha ordem não tem graça alguma.
As coisas se dispõem compassadas
mas o ritmo desse compasso militarizado
é enfadonho em minha vida.
Vivo assim neste mundo.
Qual a última vez que andei descalça?
Deve ter sido o primeiro.
O primeiro e o último dia de aventura
se fundiram num só.
Provei e reprovei a idéia de liberdade
em um só ato.
Não tenho tempo
Para as coisas simples do mundo.
Tenho idéia fixa
em viver tudo o que tenho como meu,
por todo o tempo que possa.
E aí não tenho tempo
para muita coisa que reste no mundo.
Alguns vieram com propósitos
tatuados no pulso, na nuca, na sola dos pés.
A mim nada mais importa
que completar minha missão terrena.
A que foi tatuada em outro mundo.
Então, o tempo que seria tempo
de nada fazer, eu dedico a remoer idéias
e a decifrar enigmas
de um universo mais justo e solidário
que o que se põe.
Muitos vieram com a mesma marca.
Temos a missão de melhorar o mundo.
Nas horas que deveriam ser as vagas,
as dedicadas ao nada, não relaxo.
Nada de recreio, nada de intervalo.
Construo, destruo e reconstruo,
sem trégua.
Tenho a obrigação de melhorar o mundo
A minha ordem me mata aos poucos.
Mas, cedo ou tarde, quem é que não vai morrer?
Então, pouco importa. Permaneço.
Se me foi dado vida e itinerário,
faço por onde merecer o mistério do mundo.
Incito povos, por meio do sangue misto que me habita,
fomento revoluções pessoais,
instigo discussões homéricas entre o ego e o id.
Quero ser o melhor que possa,
com esse corpo e essa mente com que vim ao mundo.
Alimento a alma, instruo a mente,
e para o corpo, litros e litros de creme hidratante
e óleos essenciais.
Tenho obrigação de ser o melhor possível,
neste mundo.
Ser agradável aos olhos faz parte da missão.
Fica mais fácil o convencimento, a persuasão.
Então me visto de brilho, seduzo, sorrio,
lanço olhares como flechas de conquista,
acendo incensos e conquisto o mundo.
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